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Desenho de Oswaldo Cruz para seu túmulo que deveria ser construído na praia do Vidigal no Rio de Janeiro. Ao centro do desenho, vê-se seu primeiro nome, ornado com as palavras saber.esperar.poder.querer. Acima à direita, urna em que se lê: Oswaldo G.Cruz Ϯ em Berlim  8  1907. Cinzas.  Acervo pessoal Eduardo Oswaldo Cruz

Em 1907, Oswaldo Cruz acumulava os cargos de diretor da Saúde Pública e do  Instituto Soroterápico Federal. Profissionalmente vivia uma fase gloriosa, afinal acabara de comandar uma bem-sucedida campanha contra a febre amarela no Rio de Janeiro – a doença, desde o início do ano anterior, já não mais se abatia sobre a cidade em sua forma epidêmica.

Se em sua carreira as coisas iam caminhando bem, o mesmo não se podia dizer de sua vida pessoal. Naquele mesmo ano de 1907, Oswaldo notara a presença de albumina em sua urina. Era um sinal da nefrite, uma velha conhecida do sanitarista. Fora ela que, 15 anos antes, ceifara a vida de seu pai.

Aquele era um diagnóstico sombrio, e Oswaldo temeu pelo seu futuro. Na época, chegou a desenhar o projeto (não concretizado) de seu próprio túmulo, que desejou fosse instalado na praia do Vidigal, onde o sogro mantinha uma chácara. O lugar tinha um significado especial para ele – e não só porque fora morar ali com a mulher e os filhos quando regressou do estágio de estudos em Paris. Era lá, por exemplo, que costumava passar os verões com a família – sua “tribo”, como gostava de dizer. O Vidigal foi, durante muito tempo, o seu pequeno refúgio.

Oswaldo Cruz teve uma crise aguda de uremia em fins de 1908, e a partir daí ficou impossível esconder a doença. Por conta dessa nova crise, adotou um regime dietético que suprimia totalmente o sal da alimentação. Comia pouco, mas completava a dieta com as sobremesas que lhe ofereciam. Essas, aliás, eram uma paixão de Oswaldo, que mantinha em sua mesa de trabalho, junto aos livros e papéis, uma bombonière cheia de doces que ia saboreando ao longo do dia.

Em fevereiro de 1914, Oswaldo Cruz redigiu um testamento expondo as suas últimas vontades. Dois anos depois, aos 44 anos, tinha já a cabeleira quase toda branca, e a doença castigava o seu corpo. Soluços, náuseas, vômitos, eram muitos os sintomas que apresentava. Para completar, estava agora hipertenso, e uma retinite albuminúrica vinha, aos poucos, lhe reduzindo a visão.

Por sugestão de seu filho Bento, Oswaldo concordou em se afastar do Instituto para ir morar em Petrópolis (já havia deixado a direção da Saúde Pública em 1909), onde o clima era ameno e propício a uma vida menos atribulada. Desde 1912, a família mantinha uma residência na cidade, na rua Montecaseros. Era uma casa grande, confortável, com um amplo jardim onde o sanitarista poderia se dedicar a um de seus passatempos prediletos: o cultivo de flores.

Para que se sentisse ainda útil, surgiu a ideia de nomeá-lo para a recém-criada Prefeitura de Petrópolis. Nilo Peçanha, o governador a quem cabia a nomeação, aprovou a iniciativa. Empossado em agosto de 1916, Oswaldo não ficaria, contudo, muito tempo no cargo. Poucos meses depois, com a doença avançando a passos largos, renunciou ao cargo de prefeito. Era questão de tempo: sua agonia só aumentava.

Oswaldo Cruz morreu em casa, por insuficiência renal, às 21 horas e 10 minutos do dia 11 de fevereiro de 1917. Estavam a seu lado a mulher, os filhos e alguns amigos: Salles Guerra, Ezequiel Dias, Carlos Chagas, João Pedroso e Belisário Penna. No dia seguinte, em meio a intensa comoção popular, Oswaldo foi sepultado no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Na imprensa e por toda parte, honras e homenagens somente dispensadas aos heróis nacionais.