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Passe de primeira classe da São Paulo Railway Company, utilizado por Oswaldo Cruz para se deslocar de São Paulo à Santos, onde trabalhou no controle do surto de peste bubônica. São Paulo, 23 out. 1899

No início de 1904, quando a campanha da febre amarela começava a dar os seus primeiros resultados, Oswaldo Cruz desencadeou uma nova luta: o combate à peste bubônica.

Das três grandes campanhas que comandou no Rio de Janeiro como diretor de Saúde Pública – a terceira seria a da varíola –, a da peste foi a que enfrentou menos resistências. Afinal, quase ninguém mais contestava que a doença era transmitida pela picada de pulgas infectadas por ratos contaminados pela bactéria Yersinia pestis, o bacilo descoberto por Alexandre Yersin e Shibasaburo Sato em 1894. A essa altura, a soroterapia e a vacinação contra a enfermidade já estavam também estabelecidas.

Além de promover a vacinação dos moradores das áreas mais infectadas, Oswaldo Cruz utilizou-se da notificação compulsória para garantir o isolamento dos doentes e o seu tratamento com o soro fabricado no Instituto Soroterápico Federal. Ao mesmo tempo, promoveu ampla campanha de desratização em toda a cidade.

Os funcionários destacados para a missão eram obrigados a apresentar pelo menos 150 ratos por mês, sob pena de serem demitidos. Os que conseguiam ultrapassar a cota recebiam uma recompensa de trezentos réis por animal abatido. A Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP) também instituiu a compra de ratos: para cada animal morto apresentado, pagava-se a quantia de duzentos réis.

Como qualquer pessoa estava autorizada a vender ratos para o governo, logo surgiria uma nova profissão na cidade: a dos ratoeiros – indivíduos que corriam as ruas comprando ratos a baixo preço, para depois revendê-los à DGSP. Houve até quem se dedicasse a criar roedores em casa com essa finalidade. E não faltou quem fosse buscá-los em outras cidades. Em pouco tempo, o ofício de ratoeiro se transformou em num grande negócio.

A “guerra aos ratos” virou motivo de deboche e piada entre os cariocas, servindo de inspiração para inúmeras charges e caricaturas, crônicas e até canções populares. Obviamente, o alvo preferido e personagem principal dessas obras chamava-se Oswaldo Cruz.

Apesar de ter caído em um ritmo mais lento do que o da febre amarela, o número de óbitos por peste bubônica na capital também experimentaria uma sensível redução, revelando o acerto da campanha empreendida por Oswaldo. Os casos fatais da doença, que em 1903 atingiram o índice de 48,74 mortes para cada 100 mil habitantes, seriam drasticamente reduzidos nos cinco anos seguintes. Em 1909, ano em que Oswaldo Cruz deixou a DGSP, esse índice chegou ao seu mais baixo patamar: 1,73. Mais uma vez, Oswaldo Cruz saíra vitorioso.