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Desde sua posse na Diretoria Geral de Saúde Pública em 1903, Oswaldo Cruz passou a defender a necessidade de se levar para outras regiões do país as ações de saneamento que estavam sendo realizadas por ele no Rio de Janeiro. Assumira então o compromisso de que, tão logo fosse controlada a febre amarela na capital, iria se dedicar à reformulação dos serviços de saúde dos portos marítimos e fluviais brasileiros. A ideia tinha razão de ser: como signatário das convenções de Veneza (1897) e Paris (1903), o Brasil se comprometera a promover a defesa sanitária de seus portos contra a invasão de doenças como o cólera e a peste bubônica.

Em 28 de setembro de 1905, acompanhado de seu secretário, o médico João Pedroso, Oswaldo Cruz embarcou no rebocador República rumo ao norte do país. Levava na bagagem um plano para a construção de hospitais de isolamento e de estações de desinfecção em cada local a ser visitado.

A expedição foi dividida em duas etapas. Na primeira, que se estendeu até o dia 6 de dezembro, Oswaldo visitou 26 portos: Cabo Frio, no Rio de Janeiro; Vitória, no Espírito Santo; Caravelas, Santa Cruz, Porto Seguro e Salvador, na Bahia; Aracaju, em Sergipe; Penedo e Maceió, em Alagoas; Tamandaré e Recife, em Pernambuco; Cabedelo e Paraíba, na Paraíba; Natal, Mossoró, Areia Branca e Macau, no Rio Grande do Norte; Camocim e Fortaleza, no Ceará; Amarração, no Piauí; São Luís, no Maranhão; Belém, Óbidos e Santarém, no Pará; Parintins e Manaus, no Amazonas.

A segunda viagem, iniciada em 17 de janeiro de 1906, foi dedicada aos portos do Sul. A bordo do paquete Santos, Oswaldo visitou Santos, em São Paulo; Paranaguá, no Paraná; São Francisco do Sul, Itajaí e Florianópolis, em Santa Catarina, e Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Estendeu a viagem até as capitais do Uruguai, da Argentina e do Paraguai e, em seguida, a Corumbá, no Mato Grosso. Em 28 de fevereiro, depois de passar novamente por Buenos Aires e Assunção, retornou ao Rio de Janeiro.

Somadas, as duas expedições consumiram 111 dias de viagem. Embora o plano de Oswaldo não tenha sido efetivamente aplicado, a expedição permitiu reunir grande quantidade de material para pesquisa, principalmente mosquitos e sangue extraído de doentes.

Experiência pioneira de contato com um Brasil praticamente desconhecido nos grandes centros urbanos, esse trabalho teria continuidade alguns anos depois com as expedições científicas do Instituto Oswaldo Cruz. Será principalmente a partir delas que o país tomará consciência da dramática realidade de sua gente mais sofrida: a população dos sertões brasileiros.