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O documento mais antigo da série presente nesta amostra, datado de 13 de abril de 1891, é uma carta do estudante Oswaldo, muito saudoso, à sua jovem noiva Emília, a Miloca, que passava férias em Caxambu. A coleção termina com outra carta enviada de Petrópolis em 27 de fevereiro de 1915 à esposa, que estava em Londres com os filhos e o genro, na qual encontramos uma bem-humorada descrição do Carnaval daquele ano, um “escândalo de indecência”, com um número fantástico de “versos obscenos” e pessoas andando quase nuas. Dentre as fantasias, Oswaldo Cruz destacava a de Kaiser e a de uma mulher de “maillôt, que trazia juntado na dérrière um colossal cachorro!”. Comenta ainda o acidente de charrete em que se envolveram o ex-presidente Hermes da Fonseca e sua esposa, Nair de Tefé, em Petrópolis.

Durante suas expedições a pontos extremos do país, bem como nas viagens internacionais feitas como representante tanto do Instituto Oswaldo Cruz quanto da Diretoria Geral de Saúde Pública, o cientista tinha o hábito de estabelecer uma intensa comunicação com a esposa, na qual se revelam alguns aspectos inusitados para a época, como os conselhos que pedia antes de tomar decisões a respeito de sua carreira ou sobre as estratégias para o enfrentamento de questões de saúde pública. O pesquisador atento deste arquivo encontrará também alguns trechos das cartas reproduzidos nos relatórios apresentados ao final de cada expedição científica. Merece destaque um pequeno conjunto de cartas e cartões enviados entre os meses de novembro e dezembro de 1907, quando, ao voltar de Berlim, recebeu a missão de ir ao México, participar da IV Convenção Sanitária Latino-Americana, e também aos Estados Unidos, onde visitou Washington e Nova York. Nessa cidade o cientista revela seu encanto pelos hábitos dos cidadãos norte-americanos, o conforto dos hotéis e o turbilhão das ruas: “Os bonds são todos eléctricos, e andão com uma velocidade de aterrar. Há, além dos bonds que se succedem todos os segundos, formando quasi uma fila contínua, um trem subterrâneo e vários aéreos, de maneira que quem passa pela rua tem sobre a cabeça um comboio a desfilar com toda rapidez e sob os pés um outro. O barulho é infernal e há uma verdadeira agitação de colmeia”.